Juventudes: s. f.

Juventude é um conceito polissêmico, de caráter interdisciplinar, cuja pluralidade manifesta-se pelas distintas realidades históricas, sociais e culturais da condição juvenil. São tantas juventudes quanto são os contextos relacionados, principalmente, às dimensões: etária, estabelecida por órgãos oficiais do Estado e por entidades internacionais, com variações a partir dos indicadores utilizados; biológica, que diz respeito às transformações no corpo do indivíduo e aos ciclos da vida, desde a infância, passando pela adolescência, juventude e idade adulta; social, marcada pelo comportamento do indivíduo, de gradação entre a imaturidade infantil e o exercício da vida adulta, investido de responsabilidade social; e cultural, que pertence a relações mais complexas na constituição de diferentes identidades, associadas a diversos espaços, classes sociais, contextos político-ideológicos etc.

A juventude não deve, portanto, ser compreendida apenas pelo critério de idade ou de transformações físicas e psicológicas, mas também em uma perspectiva da diversidade, com base em condições geográficas, sociais, culturais, étnicas, de gênero etc., que ganham contornos específicos no conjunto das experiências vivenciadas pelos indivíduos em diferentes contextos histórico-sociais.

Sob uma perspectiva histórica, juventude é uma categoria produzida pela sociedade moderna ocidental, sobretudo a partir dos séculos XVIII e XIX, quando a classificação, a normatização e a hierarquização eram práticas indispensáveis ao ordenamento social. Nesse caso, há uma tentativa de homogeneização dos jovens, como forma de controle. Apenas no século XX a juventude é reconhecida na sua pluralidade, explicitada à medida que os jovens são reconhecidos como sujeitos políticos para a sociedade. Segundo Pierre Bourdieu (1983), é preciso atentar para os diferentes contextos e condições sociais aos quais os jovens estão inseridos, considerando sua participação efetiva nos grandes temas mundiais e nas transformações sociais contemporâneas.

No Brasil, Abramo (2008), a partir da pesquisa “Perfil da Juventude Brasileira”, de 2003, destaca enfoques possíveis sobre a juventude no país: a dimensão política dos jovens como sujeitos que protagonizam novos espaços de luta; as demandas específicas, sobretudo de políticas sociais, dos jovens, em um recorte demográfico; os jovens como sujeitos de direitos, compreendendo-os em sua singularidade e complexidade. Dez anos depois da pesquisa, a criação do Estatuto da Juventude, lei 12.852/2013, que considera jovens pessoas com idade entre 15 e 29 anos, é um marco no âmbito da política pública de expansão da cidadania dos jovens. O documento reconhece o papel da juventude no desenvolvimento do país e entre os direitos garantidos estão: participação social e política, profissionalização, diversidade e sustentabilidade.

Os estudos sobre a juventude apontam, portanto, para a necessidade de se considerar a pluralidade das culturas juvenis. As juventudes são pensadas como processos plurais de socialização, por meio de experiências cotidianas, individuais e coletivas, em diferentes contextos, o que leva os jovens a atuarem como sujeitos políticos da sociedade.